Amanda Partata: após 1 ano, acusada de envenenar ex-sogro e a mãe dele vai a júri popular
Uma história que até parece ser de série policial: advogada, bolos envenenados, gravidez falsa e mensagens ameaçadoras.
Um café da manhã em família que terminou em tragédia. Esse é o caso fatal que envolve Amanda Partata, de 31 anos, acusada de envenenar o ex-sogro, Leonardo Pereira Alves, de 58 anos, e a mãe dele, Luzia Alves, de 86 anos, em Goiânia (GO).
O caso, que ocorreu em dezembro de 2023, virou notícia em todo o Brasil e agora terá um novo capítulo: a Justiça decidiu que Amanda enfrentará o júri popular.
Mas como tudo isso aconteceu? Vamos relembrar os detalhes e entender por que esse crime chocou o estado de Goiás e ganhou tamanha repercussão nacional e internacional.
O início de tudo: bolos de pote e veneno mortal
No dia 17 de dezembro de 2023, Amanda Partata chegou à casa do ex-namorado, em mais uma visita frequente que fazia família dele, levando bolos de pote para o café da manhã, mas os doces estavam contaminados com arsênio, uma substância extremamente tóxica.
- As vítimas fatais: Leonardo, conhecido como “Leozão”, ex-servidor da Polícia Civil, e sua mãe Luzia, uma idosa cadeirante que sofria de Alzheimer, comeram os bolos envenenados. Poucas horas depois, os dois começaram a passar mal, apresentando vômitos, diarreia e fortes dores abdominais.
- Sobreviventes: o avô e o tio do ex-namorado também receberam os doces, mas recusaram o alimento por diferentes motivos.
Leonardo e Luzia foram levados às pressas ao hospital, mas não resistiram e morreram. Foi aí que a polícia começou a desconfiar da advogada.
Detalhes sobre o veneno usado no crime
O veneno supostamente utilizado por Amanda foi o arsênio, uma substância altamente tóxica e silenciosa, historicamente conhecida por envenenamentos premeditados.
O que é o arsênio?
O arsênio é um elemento químico presente naturalmente em minerais e utilizado em pequenas doses em processos industriais.
Sua forma tóxica, o arsênio inorgânico, é letal mesmo em pequenas quantidades quando ingerido.
Como funciona no organismo?
Após a ingestão, o arsênio interfere no metabolismo celular, provocando várias reações fatais:
- Primeiros sintomas: vômito, diarreia, dores abdominais e desidratação severa;
- Evolução do quadro clínico: o veneno ataca órgãos vitais, causando falência renal, problemas cardíacos e, em casos extremos, a morte em poucas horas.
Por que é difícil identificar?
Os sintomas iniciais do envenenamento por arsênio são semelhantes aos de uma intoxicação alimentar, podendo confundir médicos e atrasar o tratamento.
No caso de Leonardo e Luzia, os sintomas surgiram poucas horas após o consumo dos bolos contaminados, dificultando o socorro e contribuindo para o óbito.
Como o veneno foi detectado?
A Polícia Técnico-Científica realizou exames nos alimentos recolhidos na casa das vítimas. O laudo confirmou a presença de arsênio nos bolos de pote oferecidos por Amanda.
Além disso, exames toxicológicos feitos nos corpos das vítimas comprovaram que o óbito foi causado pela substância.
Investigações e fatos
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) iniciou uma investigação minuciosa para entender o que havia acontecido.
Foram mais de 50 horas de imagens de câmeras de segurança analisadas, além de depoimentos bastante importantes e laudos periciais.
Entenda a seguir mais detalhes sobre os fatos e as investigações.
1. O depoimento do motorista de aplicativo
Um dos principais pontos foi a descoberta de que Amanda comprou o veneno pela internet por menos de R$ 65.
A substância foi entregue na casa dela, em Itumbiara, e um motorista de aplicativo foi contratado para levar o produto até o hotel onde Amanda estava hospedada, em Goiânia.
Portanto, o motorista de aplicativo se tornou uma testemunha-chave no processo.
Depois, as câmeras de segurança foram fundamentais para reconstruir a cronologia do crime:
- As imagens mostraram Amanda saindo do hotel onde estava hospedada e indo até a doceria onde comprou os bolos de pote.
- Outras câmeras registraram Amanda chegando à casa das vítimas, carregando os doces contaminados.
2. A gravidez falsa
Além do envenenamento, as investigações revelaram um comportamento ainda mais complexo: Amanda teria forjado uma gravidez como forma de manipular o ex-namorado e manter contato com sua família.
Ela chegou a apresentar ultrassons falsos, fazer chá de revelação, além de comprar e ganhar roupas de bebê, criando uma narrativa convincente e manipulando emocionalmente as vítimas.
Inclusive, relatos da investigação indicam que Amanda já havia enganado ao menos cinco ex-namorados, alegando estar grávida para mantê-los próximos ou obter benefícios pessoais.
Após o término de um namoro, ela criava situações fictícias, como a gravidez, para se manter presente na vida da pessoa.
Em depoimentos, conhecidos e familiares de Amanda mencionaram que ela costumava agir com frieza em situações de conflito e, em alguns casos, demonstrava vingança silenciosa quando contrariada.
3. Pesquisas suspeitas
Análises do celular de Amanda mostraram que ela pesquisou frases como:
- “consequências mortais de arsênio no corpo humano”
- “como envenenar uma pessoa sem ser descoberto”
Ainda, as conversas resgatadas também mostraram ameaças anônimas enviadas à família de Leonardo, reforçando a motivação do crime totalmente premeditado.
4. Um histórico preocupante
A polícia também revelou que Amanda já teria enganado ao menos 5 ex-namorados com a mesma alegação de gravidez falsa.
Além disso, há registros dela por crimes de estelionato e falsificação tanto em Goiás quanto no Rio de Janeiro.
O que diz a Justiça?
Durante o processo, a defesa de Amanda tentou alegar insanidade mental, solicitando um exame psiquiátrico.
No entanto, a junta médica do Tribunal de Justiça de Goiás concluiu que Amanda tinha plena consciência dos seus atos:
“A periciada era plenamente capaz de se determinar sobre seus atos, com características claras de planejamento, premeditação e cuidado para que sua intenção ilícita não fosse descoberta”, diz o laudo.
Portanto, não foram identificadas limitações cognitivas, retardo mental ou doenças psiquiátricas.
Além disso, o delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama, afirmou que Amanda apresenta sinais de comportamento psicopático:
“Ela não demonstrou arrependimento e agiu de forma meticulosa. O crime foi planejado em detalhes, com a escolha do veneno, a entrega e até a tentativa de ocultar sua responsabilidade.”
Agora, a Justiça determinou que Amanda irá a júri popular. A decisão foi tomada em 26 de agosto de 2024, pelo juiz Eduardo Pio Mascarenhas, da 1ª Vara Criminal dos Crimes Dolosos Contra a Vida. Porém, os advogados dela entraram com recurso contra essa decisão e, agora, está pendente de julgamento.
Amanda segue presa preventivamente, desde dezembro de 2023, na Casa de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia.
Motivações: vingança e rejeição
De acordo com o delegado Carlos Alfama, responsável pelo caso, a motivação do crime foi o sentimento de vingança e rejeição.
O relacionamento entre Amanda e o filho de Leonardo havia durado pouco mais de um mês, mas o término teria despertado nela um desejo de retaliação.
Além disso, Amanda teria enviado mensagens anônimas ameaçando o ex-namorado e sua família, utilizando perfis falsos para dificultar a identificação.
A repercussão e o impacto na família das vítimas
O caso abalou a família de Leonardo e Luzia, tendo uma repercussão imensa.
À época, a filha de Leonardo, a médica Maria Paula, fez um desabafo emocionante nas redes sociais:
“Queria muito que meu pai estivesse aqui para me ver entrando na igreja e conhecendo seus netos. Ele faz muita falta”.
Recentemente, Maria Paula comentou novamente sobre o caso em suas redes sociais:
O advogado da família, Luís Gustavo Nicoli, comentou sobre a decisão de levar Amanda a júri popular:
“Essa decisão traz justiça para os familiares das vítimas, confirmando a responsabilidade de Amanda pelos atos cruéis que devastaram essa família”.
E agora: o que esperar do julgamento?
O julgamento pelo Tribunal do Júri ainda não tem data marcada, mas, caso Amanda seja condenada, a soma das penas pode ultrapassar 100 anos de prisão, devido às qualificadoras:
- Motivo torpe.
- Emprego de veneno.
- Dissimulação.
- Agravamento pela idade das vítimas.
Enquanto isso, a advogada segue na Casa de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, sem possibilidade de responder em liberdade.
Um caso que não deve ser esquecido
O caso Amanda Partata é um dos mais chocantes da história recente de Goiás, envolvendo envenenamento, manipulação e mentiras que deixaram marcas bem profundas.
Portanto, considera-se que a decisão de levá-la a júri popular representa um passo importante na busca por Justiça.
Agora, resta aguardar o desfecho do julgamento e torcer para que as famílias das vítimas encontrem a paz que tanto buscam.
* Texto escrito e comentado por Guilherme Peara, fundador e editor-chefe do InfoDireito.