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A invisibilidade do porteiro: o desrespeito que ameaça a segurança e a harmonia do seu condomínio 

Entre xingamentos, demandas abusivas e invisibilidade, porteiros enfrentam desafios diários que vão além da portaria. Entenda o impacto desse comportamento e como a cultura de respeito pode transformar o ambiente condominial. (Por Issei Yuki Júnior*)

Eles são os primeiros a chegar e os últimos a sair. Mantêm o olhar atento, zelam pela segurança e garantem a organização do dia a dia. No entanto, para muitos condôminos, os porteiros são invisíveis.

Desrespeitados, subestimados e frequentemente pressionados a realizar tarefas além de suas funções, esses profissionais enfrentam desafios diários que passam despercebidos por aqueles que se beneficiam de sua presença.

O advogado especialista em direito condominial, Dr. Issei Yuki, comenta que poucas pessoas se dão conta da importância estratégica do porteiro em um condomínio.

Além de monitorar o fluxo de entrada e saída, recepcionar visitantes e controlar o recebimento de correspondências, esses profissionais são os olhos e ouvidos do condomínio.

Eles observam tudo o que acontece e muitas vezes detectam problemas de segurança e emergências antes de qualquer outra pessoa.

No entanto, apesar de desempenharem uma função essencial, muitos porteiros relatam situações de desrespeito que vão desde atitudes grosseiras até abusos emocionais frequentes.

Em entrevistas confidenciais realizadas com porteiros em condomínios de médio e alto padrão em São Paulo, por exemplo, relatos de xingamentos e pressão para descumprir normas internas surgiram de maneira recorrente.

A carga psicológica do trabalho do porteiro

Uma pesquisa informal feita por administradoras de condomínios aponta que 65% dos porteiros relataram nunca receber um “bom dia” de alguns moradores, mesmo após anos de convivência.

Isso revela um problema muito comum, o tratamento desumanizador, que pode impactar a autoestima e o desempenho desses profissionais.

É muito comum que condôminos façam pedidos além do escopo de trabalho dos porteiros, como subir compras aos apartamentos ou cuidar de animais.

Muitos desses profissionais, com medo de retaliações, acabam aceitando essas demandas, o que resulta em uma sobrecarga física e emocional e, eventualmente, na normalização de práticas abusivas.

Um estudo da Associação Brasileira de Síndicos Profissionais (ABRASSP) revelou que cerca de 30% dos porteiros já sofreram algum tipo de assédio verbal ou foram vítimas de ações de desrespeito, como xingamentos ou humilhações públicas.

Essas situações afetam diretamente a saúde mental dos funcionários, muitas vezes levando a casos de ansiedade e depressão.

O impacto do desrespeito: mais do que palavras grosseiras

A falta de respeito vai além dos atos de grosseria. Ela compromete a segurança do condomínio, desmotiva os funcionários e cria um ambiente de trabalho tóxico.

Quando o porteiro é desrespeitado ou subestimado, sua disposição e vigilância diminuem. Isso pode resultar em falhas na triagem de visitantes, descuido na supervisão de áreas comuns ou até negligência em emergências.

O Dr. Issei Yuki destaca que especialistas em gestão condominial informam que a motivação dos funcionários está diretamente ligada à qualidade do serviço prestado.

Um porteiro desvalorizado tende a ser menos atento e a demonstrar menor interesse em sua função. Isso compromete diretamente a segurança e o bem-estar dos moradores.

O que diz a legislação sobre o respeito aos porteiros?

Embora a legislação trabalhista brasileira, através da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), garanta direitos básicos aos trabalhadores, como condições dignas de trabalho e proteção contra assédio, a prática de desrespeito aos porteiros muitas vezes fica impune.

Casos de abuso verbal, humilhações ou tratamento desumano podem ser enquadrados como assédio moral, o que gera o direito a indenizações e até mesmo a processos criminais, dependendo da gravidade.

No entanto, muitos porteiros preferem não denunciar as situações por medo de perderem o emprego ou sofrerem represálias dos moradores. Isso cria um ciclo de desrespeito difícil de ser rompido.

Como a cultura de respeito pode transformar o ambiente condominial?

Síndicos, conselheiros e moradores têm um papel fundamental na promoção de um ambiente de respeito e valorização dos funcionários do condomínio.

Pequenos gestos podem fazer uma grande diferença na vida dos porteiros e impactar positivamente o ambiente como um todo. Confira algumas medidas que podem ser adotadas:

1. Educação e sensibilização: promover campanhas de conscientização sobre o papel dos porteiros e a importância de tratá-los com dignidade.

2. Estabelecimento de regras de conduta: incluir no regimento interno diretrizes específicas sobre o tratamento respeitoso aos funcionários, com previsão de sanções para condôminos infratores.

3. Treinamento e apoio psicológico: oferecer treinamento para porteiros lidarem com situações de conflito e fornecer apoio psicológico em casos de assédio ou desrespeito.

4. Reconhecimento e feedback positivo: reconhecer os esforços e a dedicação dos porteiros por meio de pequenos gestos, como agradecimentos formais, premiações simbólicas ou simples palavras de incentivo.

“O respeito e a valorização dos porteiros são questões que transcendem o simples cumprimento de normas de convivência. Trata-se de reconhecer a importância de quem zela pela segurança e pela organização do condomínio todos os dias. Ao promover uma cultura de empatia e respeito, é possível não apenas transformar o ambiente condominial, mas também garantir uma convivência mais harmoniosa, segura e humana para todos.”. Conclui o advogado Issei Yuki.


Mais sobre Issei Yuki Júnior: sócio de Yuki, Lourenço Sociedade de Advogados
Graduado em Direito pela Universidade São Francisco com especialização em Direito de Família e Sucessões, e mais de 25 anos de experiência como advogado nas áreas de Direito Civil e Processual Civil, Família e Sucessões, Direito Condominial, Direito do Consumidor e Consultoria empresarial e societária.

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